Quem pagará a conta serão os mais pobres, com o enfraquecimento dos servidores públicos que buscam desmascarar corruptos e corruptores
Anajus Editorial
24 02 2019
Às vésperas do Carnaval, o Executivo federal tenta relançar, com o projeto da reforma da Previdência, o surrado enredo de que a culpa do seu próprio desgoverno está na ala dos servidores públicos. Como efeito imediato, ameaça desafinar ainda os serviços prestados à população mais pobre e desclassificar quem pune os que querem se manter mascarados na festa da impunidade.
De novo, com a mesma bateria nota zero de carnavais recentes, o governo acusa o funcionalismo genericamente de acumular privilégios e aprofundar o buraco em que o País foi metido. É uma estratégia que, no fim, acabará beneficiando o verdadeiro vilão da Previdência, ansioso para deixar o baile sem pagar a conta.
Nessa fantasia oficial, a primeira vítima é a verdade, com um bordão apelativo: “Quem ganha menos paga menos, quem ganha mais paga mais”. O resultado real é que, se passar os ataques aos servidores no desfile do projeto pelo Congresso, quem pagará mais serão os brasileiros desprovidos de adereços, sem escolas, hospitais, segurança pública e Justiça.
Sim, há urgência de reforma profunda do Estado brasileiro. Mas isso não pode começar com o enfraquecimento do funcionalismo. Nem poupar cordões que se destacam na passarela das vantagens previdenciárias, como os militares.
Em primeiro lugar, é hora de acabar com o desgastado refrão de que há servidores públicos demais no Brasil. Em cada 100 trabalhadores brasileiros, 12 são servidores públicos. A média é a mesma verificada nos demais países da América Latina, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Já nos países mais desenvolvidos, o percentual quase dobra — a média é de 21 funcionários a cada 100 empregados. Em nações como Dinamarca e Noruega, mais de um terço da população economicamente ativa está empregada no serviço público. No Brasil, em contraposição, falta voz para entoar novos concursos públicos. E, mesmo assim, anunciam que querem colocar a retomada do desenvolvimento como carro abre-alas.
Colocado longe da comissão de frente, o servidor público é que pode combater um dos principais responsáveis pelo reino da desigualdade no País: a corrupção. Auditores, policiais, procuradores, fiscais e operadores da Justiça, incluindo os Analistas Judiciários, devolvem cada vez mais aos cofres públicos o que foi assaltado por corruptos e corruptores.
Só um serviço público forte e valorizado é capaz de promover a retomada da prosperidade e do pleno emprego. O resto é balela. Trata-se de apresentação sem brilho para atacar os direitos dos cidadãos, fragilizar o Estado, endeusar o mercado e encobrir o verdadeiro vilão da Previdência.